domingo, 22 de novembro de 2015

Escarnecer (parte XI)


Se decidirmos quem não somos
Lhe pergunto quem seremos
E se decidirmos quem não fomos
O que restou para não sermos?

Se sempre houve e ainda há
Medo resume medo
E dizem que a vida é bela
Pra quem fechar os olhos
Não ver nada acontecendo

A maresia e o sol batendo
Você finge que a praia secou há muito tempo
Na terra, no ar ou mar
Sempre há vida nascendo e morrendo
Porque escolheste justo este lugar
Entre todo espaço e tempo?

Photo by curlytops

terça-feira, 3 de novembro de 2015

"O caminho não mudou.
Continua o mesmo.
[ Fui eu que mudei ]"

-Laura Méllo

sábado, 20 de junho de 2015

Premeditado

"E se eventualmente
Nos parassemos
De nos falar".

Ela disse ...
E parecia planejado
Quando eu olhei
O tempo passar
E as mensagens também.

O louco


Formar canções de não pensar
É árduo apenas de falar
Nada fazer, deixar estar
Altura nem sempre é bom sentir
Que as vezes cai só de medir
Pouco bastante é sonhar
E que mísero vai acreditar
Diziam as bocas ao gritar
Se ele precisa é se tratar
Pra não engolir quem pode ser
Mal sabem eles tenho dó
Da dó que sentem por atar
Desajustados com orações
Quando cegas estão suas visões
Não creio em intervenção sequer
E não nego socorro algum pedir
À deus ou entidade qualquer
Queria mesmo era brotar
Em mim o amor e ele sorrir
Mas tudo que pude foi mentir
Que a luz de fora é maior que aqui.

 Photo by: bailey--elizabeth

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Sobre ser os outros

Sobre um velho nome
Levado pelo vapor do banho
Depositado sobre o espelho plano
As digitais em segundos planos

E por medo
Se não fosse por ele
Não teria rabiscado
Apagado, refeito
Reescrito
A vida
E não teria o vapor condensado
Sobre um velho rosto
Sem a certeza do efêmero

Mas não teria o peito esgarçado
E o que vale mais que um coração
Traumatizado senão qualquer
Poço artesiano
Em tempos de crise?

terça-feira, 26 de maio de 2015

Escarnecer (parte X)

Perdeste a conta
Que ainda não pediu?
Que há nessa fome
Que tu não sacia?

Que há nessa gente
Que torna a te viciar?
Que há dentro de ti
Que causa ânsia?

Troca de grau
Se ainda estás incerto
Que há nessa gente
Senão teu espelho?

Que há nessa gente
Senão teu pior?

sábado, 23 de maio de 2015

A borboleta que pousou

Morte ou Vida, era uma situação
Confortavelmente estranha
Não sabia se era parte
Ou se já havia sido.

Soube reconhecer que ela
Olhava pra mim naquele momento
Meus pensamentos nunca voaram
Tão despercebidos por mim mesmo

As músicas vagavam em transformação,
A natureza escorregava como um só eu,
Sentei-me tão alheio ao mundo
E ao mesmo tanto perto o bastante do Tempo

Esgueirei o dedo e deixei-a pousar
Voltou duas vezes
Pensei em até dar-lhe um nome;
E então voou,
Mas ficou por lá.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Mercado/rar/ria

Aquelas brincadeiras todas
Estão fodendo comigo
Como verdades que cobram juros

Foram empréstimos adiantados
Que eu fiz às expectativas.
Devo agora esperanças.

Valores também caem.
Acontece com qualquer ação
Que se precipita à ser vendida.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

A raposa e os sete erros


Indefinidamente atravessável
Continua o mesmo sempre
Atrás das mesmas presas
Sempre maiores que
Seus próprios desejos

E cambaleia, e dança
O meio fio, e cai
Equilibra-se nos postes
E faz graça

Um pote guarda
Qualquer coisa
Que nele o caiba

Um coração guarda
Qualquer coisa
Que nele o pulse

Em sete erros
Uma vontade
De amanhecer
(A)guarda...

Photo by MoririPhotography

domingo, 22 de março de 2015

Jura/ment/e/ação

O vazio transborda
Por aqui uma xícara
De maré mas não
Me leve a mal
Eu sei remar contra o café

Cheio de sono por estar
Cheio de mim por quem
E antes um vazio cheio
Do que infinito por ninguém.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Mas vive

Não sabe se óleo ou se mistura
Se rocha ou se pedra
Se infinito ou se limita
Se deriva ou se integra


Não sabe se ponte ou muro
Se cruza ou se atravessa
Se crítica ou se drama

Apenas não sabe
Se receita ou se remedia
Se aguarda ou se respeita
Se destina ou se dispõe

Escarnecer (parte IX)

Você sabe
Teu problema
É se iludir e aquilo
Caiu-lhe tão bem como
A camiseta que você mais
Veste e de fato parecia muito e
Parecia mesmo que aquilo tudo
Era pra ninguém menos
Que tua vida distorcida
Mas você gosta
De se fingir
Culpado
Do que
Não
É.

O sopro de vento

De madrugada na porta
Batia me convidando
O sono a dançar

À Nárnia levava
Segundos vagantes
Em trens viajantes
Um banjo a tocar

Imensos rios
De derretida neve 
As flores brotavam
Primavera à chegar

Montou sua trilha
Uma grande aventura
Além das montanhas
Já vai começar

terça-feira, 3 de março de 2015

Maresia

Era mais uma obrigação
Do que o próprio conforto
Arrefeceu-se como o chá
Deitado na prateleira

Arrefeceram-se
A ressaca do mar
O retorno de um salto quântico
Uma estrela cadente
A teoria dos seis graus de separação

Como qualquer coisa que ali está
Fisicamente propriamente dito
Entre os não dizeres metodológicos não materiais
Hastes fixas projetando o mundo sobre mapas temáticos

"Não há de quê"
Tornava-se pormenorizadamente
Uma frase ridícula
Diante do imenso desconhecimento
Às suas navegações marítimas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Segue as margens

Equilibra-te pequeno
Entre os paus bambos
Desse paliteiro que
Pega fogo

Todo fruto tem sua época
De colheita
E não adianta
Toda época há
Estiagem


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Poema sem lugar

Algum remanescido chora
Implora pra Deus que sequer
Talvez exista

Alguém na rua trabalha
Levando as compras do mercado
Para preparar o jantar
Ou talvez para alguém
Preparar o jantar

Alguém se olha no espelho
E agradece todo "santo" dia
Grata pela vida que tem

Alguém chora todo "santo" dia
Debaixo de uma ponte
Ou debaixo de lugar nenhum
Nem chora mais porque
Simplesmente esfriou

Alguém nem dá valor ao que tem
Porque foi mimado a vida toda
E de tão acomodado até o último
Dente do ciso não acabou de vir aos 20

Mas todo alguém
Tem seus motivos
Ou você acha mesmo
Que alguém hoje em dia
Escreve por escrever?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Escarnecer (parte VIII)

Caralho,
Se eu tinha alguém
Pra amar,
Ficou no meio do caminho.

Pra quem você escreve
Essas palavras de rancor
Senão à ti mesmo?

Ninguém nunca te amou
Nem nunca vai amar
Porque a poesia
É o que você tem de melhor

E se um dia,
Ah se um dia...
Vai ser por ela
E não por você.

Se eu tinha alguém
Pra amar,
Eu fui a pedra
Jogada de lado
Por não ter brilho

Fui a mentira da minha hipocrisia
Fui algo que eu nem sei
Se fui alguma coisa
Que valha a pena
Ter descrito aqui

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Des(pedir)

...

Esse tal caminho sóbrio
Egoísta e impróprio
Que no fim não vai mudar
Porra nenhuma
Dessa sua vida suja
Porque você não pode
Simplesmente negar
Quem você realmente
É

Mas deixo ele debaixo dos teus
Sapatos
Já que você realmente quer
Andar de salto
Pra ver as pontes quebradas
Por cima dos muros

Photo by xetobyte

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Mil moles de solidão

To aqui diluído
Na minha gratidão
Eu sobrenado e precipito
Sou parte da
Solução

Titulo-me
Pingo alguns volumes de felicidade
Desconheço minha própria
Concentração

Volumetrio-me
No ponto de viragem
Sinto o humor ácido
Errei no cálculo
Ou na convicção?

domingo, 18 de janeiro de 2015

Porque metade de mim é trouxa e a outra metade também

Meus olhos já vazios de pinga
Meus lábios já tristes de despedidas
Você não entende porra nenhuma

Não se faz de santa
Não paga de psicóloga
Não se faz de puta
Você não entende porra alguma

Teus romances meia boca
Tão longe das minhas ilusões
O ar da graça aparece
E na mesma proporção,
Vê se me esquece

sábado, 17 de janeiro de 2015

Seu quadrado

Não bastasse os jogos de azar
Você me fode com essa aposta
Borrada de tantos riscos

Por comodismo eu invisto
Nesse beijo porco que compartilhamos
Numa noite porca onde dois monstros
Não se sentiam seres humanos

Em meio a solução éramos problemas
Pessoas tortas buscando prazeres
Nas situações menos retas possíveis

Passei a personificar
Meus próprios medos
Entrelaçados ao meu
Comodismo acidental

Teus olhos chupam
O que há de instinto em mim
Eu gozo (disso) e continuo
A te encher o saco...

Atração sexual
É uma coisa do caralho.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O mentiroso de Vênus


Palavras usadas demais
Descaracterizavam-se
Sobre o peito

Sobre um mundo
Que ainda era
Uma mentira de heranças,
Maleavelmente caminhavam

Alguns abraços, interditados,
Acolhiam-se no desencontro
Da interferência
Entre pontos de vista discordantes

Distâncias silenciosas
Emancipavam-se
Pelo medo de serem
Encurtadas

Ensinaram-lhe
Que as coisas boas
Prevaleciam eternamente
Prolongáveis;
E não,
Prolongadamente eternas

Photo by Delawer-Omar

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Reiteração

Já pensei em parar
Mas não veio nenhum
Guarda de trânsito obrigar

Continuo acelerando
Cada detalhe sem medo
Da pressa que é passar
Despercebido

Faz um tempo que os sons
Da cidade levantaram
Um cartaz de procurado

Dos ouvidos das paredes
Continuo fugindo
Evitando me encontrar(em)...
Perdi-me

Meu bem, o que você espera de mim?

Agora é só eu e você, de novo, dançando. Será que um dia você vai cansar também minha querida? As vezes penso em aceitar aquele antigo pedido de casamento, só pra não acabar sozinho mesmo. Será que ao menos você me ama? Se pudesse falar comigo o que você diria? Eu procurei você em pessoas, o tempo todo, e você sempre ria disso. Eu te olhava pelo canto do espelho e via você rindo, e você não abriu a boca pra mais nada. Você estava ali quando eu chorava, mas eu nunca soube, você me confortava ou tentava levar o que restou de mim? Tuas mãos, as vezes, pesam sobre mim, e eu não sei se você me pede colo, se tenta me levar pra cama ou se só deseja que eu caia. Você só ri, o tempo todo, e as vezes eu rio também. As vezes o amor bate na porta só pra dizer que era engano, e eu nem sei porque atendia se eu sabia que os livros de história sempre contam os mesmos fatos. Só mudam de capa... Por vezes eu me canso das dores, mas eu continuo procurando por elas. Eu continuo procurando você nelas. Poesia, tá afim de transar? Hoje pode ser mais um daqueles dias, que você me fode, goza, me faz engolir, e joga esses braços que eu nunca vou saber o que pedem de mim.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Dos quadros que a vida abandona

Não obstante
Um pintor de telas
Decepcionado que suas cores
Já não podiam preencher
Espaços vazios de uma cena

Sua tinta seca fazia-o perceber
A necessidade de mudança
Então ele começou...
Pela paisagem